BRAZIL ONLINE FILME AWARD

O Dublê

CRÍTICA

Brenno Franca

O novo longa de David Leitch é um exercício cansativo e operático sobre o papel dos dublês no cinema. Se experienciamos o cinema como hoje, devemos isso, em parte, aos dublês. Aqueles que se jogam de prédios, dirigem carros explosivos, lutam com vilões ou até mesmo colocam uma capa de super-heroi para voar pelos céus.

O Dublê (2024) tenta homenagear esses ‘herois invisíveis’ do cinema através de uma trama que coloca Colt Sheavers, um dublê interpretado por Ryan Gosling, claro, para viver peripécias e aventuras que vão desde invasões a um apartamento até forjar a própria morte para fugir de bandidos. É simples a história que Leitch tenta contar, mas que falha miseravelmente.

Apesar de formarem um casal carismático, Gosling e Emily Blunt não conseguem se soltar das amarras do próprio filme, que está a todo tempo tentando mostrar como as coisas são feitas em Hollywood, desmistificando, por fim, o que acontece nos bastidores de grandes produções. No entanto, falta ao filme um desejo pela imagem. O diretor não consegue conferir ao filme um visual que o singularize da própria sátira que tenta artificialmente criticar. As cenas de ação são longas e megalomaníacas, o que não seria um problema se, visualmente, não fossem natimortas. É como se o filme servisse apenas para demonstrar grandes stunts de ação e nada mais. Tudo parece ser uma desculpa para termos uma cena de ação atrás da outra, mas sem o sentimento que faz a imagem pulsar, ganhar vida. Ainda que seja injusto comparar Leitch com George Miller, não dá para não pensar no recente Furiosa: Uma Saga Mad Max, que tem mais vida em um só frame do que em todo O Dublê. A decupagem rica de Miller e o seu entendimento visceral do que a imagem pode proporcionar na hora de contar uma história transforma O Dublê em nada mais do que um maquinário sem vida.

Falta à imagem a vontade de David Leitch em enxergar por trás dela, de ver para além do resultado final, de buscar por seu processo de formação. Não adianta jogar frases soltas referenciando Tom Cruise ou, se quisessem ser históricos, até mesmo Buster Keaton. O longa de dublês não entende porque o público se encanta com Ethan Hunt escalando um dos maiores arranha-céus do mundo na aridez de Dubai. Não se trata apenas do trabalho dos dublês, ainda que mereçam suas flores, mas de alguém que potencialize seus riscos de vida em tela. De que adianta saltar de helicópteros se ninguém se importa?

O Dublê

30/05/2024 - Por Brenno Franca

Direção

David Leitch

Elenco

Ryan Gosling, Emily Blunt, Aaron Taylor-Johnson, Hannah Waddingham, Teresa Palmer, Stephanie Hsu, Winston Duke, Ben Knight

Roteiro

Drew Pearce

Ficha Técnica

Leia Também